HQ: Cronologia das enchentes no RS
Ilustrei as informações compiladas pela jornalista Isabela Reis, do dia 29/4 a 2/5
Sim, eu sei que o 7 a cada 7 dessa semana tá atrasado… Enquanto escrevia o terceiro item me deu uma profunda sensação de “meu deus do céu qual o sentido de falar besteira agora” (mas calma vai sair sim, eu sei que falar besteira ajuda).
Ontem parei um pouquinho de escrever, abri essa thread da Isabela Reis que lista os vários alertas metereológicos avisando de riscos de enchentes que o Governo do RS, o Governador Eduardo Leite e a própria Defesa Civil-RS ignoraram e negligenciaram. Resolvi ilustrar bem rapidinho:
Escrevi umas cinco versões pra encerrar esse e-mail, mas nada parece bom. Terei que seguir com alguns parágrafos insuficientes, ou não vou disparar isso nunca.
Não é que me falte palavras, elas só não conseguem pegar a realidade pelo laço e conduzir a um espaço seguro. O termo “colapso ambiental” não é capaz de dar conta do que deve ser ter de abandonar sua casa correndo enquanto a água sobe, perder fotos de infância e livros favoritos, inclusive aquele com dedicatória da sua avó, o que ela te deu de natal e você leu em numa madrugada só aos doze anos.
Falar de “perdas materiais”, como se fosse trivial substituir as coisas que nos servem como pontos de referência no mapa confuso de quem nós somos. Não é.
Pedir “doações”, sabendo que a necessidade das pessoas é imediata mas que não há orçamento individual meu ou teu que vá reerguer tanta gente por tanto tempo, se o Estado não intervir profundamente nas consequências e nas causas do que ainda está acontecendo.
Nós que estamos seguros — pelo menos por agora — precisamos falar sobre isso com as palavras que encontramos e apontar o dedo na cara dos responsáveis, ainda que eles digam que não é a hora de falar em culpados.
Se não agora, quando?
“A ciência já fez uma série de alertas, não só com este documento, mas com outros que têm apontado a tendência de na região Sul do país, na Bacia do Rio Prata, ter um volume maior de chuvas com o aumento da temperatura por conta do aquecimento global. Em contraponto, na região Norte é esperada uma redução do volume hídrico e nós estamos vendo isso ocorrer também no Pantanal.
Então, informações técnicas, dados e alertas dos cientistas estão disponíveis há bastante tempo. Informação não falta. O que falta são políticas públicas que possam minimizar os impactos desses eventos para a população porque eles continuarão a ocorrer. A mudança climática é uma realidade, não temos mais como evitar os eventos extremos.”
— Suely Araújo, do Observatório do Clima, em entrevista ao The Intercept
Essa news estava na minha lista de leituras que eu pausei quaando tive que deixar a minha casa há 20 dias (e contando).
Me parece que tu foi uma vidente ao falar sobre a perda de fotos e livros com dedicatórias. Ao longo de 20 dias fui ficando com raiva a cada vez que alguém dizia “o importante é que vocês estão bem, o resto se reconstrói”.
Ontem entrei em casa (ainda com agua) pra ver o que restou, e o que mais me doeu foram exatamente estas perdas.
Enfim, obrigado pelos traços e pelo texto. Acho que no meu atraso, li na hora certa.