13. sonhei que enviava a newsletter sem revisar
aí percebi que esse é o único sonho que consigo realizar, então...
disclaimer importante: eu já havia desistido de enviar essa edição e estava escrevendo outra — porque tudo aqui me parecia tão insignificante e pequeno dentro dessa intensa crise depressiva sazonal, quando me veio ontem a percepção natalina de que independente de qualquer coisa eu posso, sim, honrar o que eu senti enquanto escrevia isso aqui. aí vai:
ontem sonhei que eu acordava deitada no teu peito.
eu sabia que estava em um sonho e dizia pra você, que me abraçava, eu sei que isso não tá acontecendo e que na verdade tô dormindo e só quero continuar dormindo mais um pouco. você ria.
no desespero de continuar ali, olhava pras manchas do teu rosto os poros da tua pele o cílio que caiu na bochecha os cílios que ainda estavam ao redor dos olhos os fios de cabelo um por um as pintas no teu peito os pelos no teu braço as tatuagens desbotadas as novas que nem sei quais são.
nunca estive tão acordada na minha vida e nunca olhei pra ninguém daquele jeito — como se estivesse memorizando o mapa de uma cidade onde eu morava mas não visito mais faz tempo — eu não vou me perder, eu conheço tudo aqui.
fiquei uma eternidade olhando pra você e acordei.
depois passei o dia com um bom humor à prova de tudo. minha cabeça sabe que era só sonho mas meu corpo sentiu teu cheiro.
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ontem sonhei que acordava sozinha.
mas trabalhava o dia inteiro de bom humor porque tinha sonhado na noite anterior que acordava abraçada em você. daí falava em reuniões almoçava omelete jantava pizza queimava o céu da boca chorava vendo o último episódio de um desenho.
no meio de todas essas ações, em qualquer momento livre pensava em você e não prestava tanta atenção a nada. isso jamais aconteceria se eu soubesse que estava em um sonho. quando a gente sabe que está dentro de um sonho, tudo que a gente quer é passar o dedo na trama do tecido que a realidade bordou e puxar o fio. se eu soubesse que estava em um sonho, perceberia as pistas e não demoraria muito pra descobrir que essa vida que eu estou vivendo é exatamente como ela seria se você sonhasse comigo.
por isso, hoje quando deitar na cama vou imaginar que estou batendo na tua porta. vou te visitar no seu sonho. mesmo que eu abra a boca todas as palavras que sairão dela serão as tuas. se quiser me matar me colocar em um avião me engravidar casar comigo ser meu irmão me transformar em gato só direi bora.
só não sonhe que queimei o céu da boca. minha cabeça sabe que é sonho mas a língua ainda arde.
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tudo o que eu tento dizer o caio fernando abreu já disse de um jeito muito mais bonito. por exemplo, em Por trás da vidraça do livro Pequenas Epifanias:
“Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo — e era um sonho bonito, aquele —, está entendendo? Você acordava, eu não. Eu continuava sonhando, mas na continuação do meu sonho você tinha deixado de sonhar comigo. Você estava acordado, tentando adequar a imagem minha do sonho que você tinha acabado de sonhar à outra ou à soma de várias outras, que não sei se posso chamar de real, porque não foram sonhadas. Mas, se foi o contrário, então era eu, e não você, quem tentava essa adequação — nessa continuação de sonho em que ou eu ou você ou nós dois sonhamos um com o outro.”
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sonhei que ia correndo pro aeroporto pra te impedir de pegar um avião, como se você estivesse mudando de país mas você só estava indo pra são paulo.
não dava tempo de te encontrar e eu ficava no hall do aeroporto vendo os aviões decolarem e dando graças a deus por ter perdido você assim, de um jeito dramático. uma história horrível pra lembrar sozinha mas uma boa história pra contar no bar.
bem melhor do que tudo o que realmente aconteceu.
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eu sou maluca por fotografar alguém dormindo
mas quando a sophie calle faz é arte
talvez eu tenha fotografado porque achei bonita
a vulnerabilidade e a confiança de dormir ao lado de alguém
porque fui estuprada enquanto dormia
talvez a diferença seja que a sophie calle
pediu o consentimento para fotografar e eu não
talvez ter fotografado alguém dormindo tenha sido uma violação
talvez ter fotografado tenha sido, sim, uma vingança
(desculpa)
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sonhei que eu voltava no tempo mas fazia tudo igual. histórias de viagem no tempo são sempre sobre duas coisas. a primeira é a tragédia inevitável. a segunda é testemunhar a tragédia inevitável e falar meu deus eu consigo consertar isso mesmo que eu não consiga por favor me deixe tentar eu preciso tentar etc. aliás, eu menti porque são sobre três coisas e a terceira é obviamente amor.
num mesmo álbum, as boygenius não se decidem porque cantam “mas é bom ser conhecida tão bem / eu não consigo me esconder de você como eu me escondo de mim mesma” e “eu posso gostar menos de você agora que você me conhece tão bem”.
e eu entendo perfeitamente porque é bom, sim, ter alguém pra te lembrar que você é uma pessoa extrovertida ainda que esteja numa crise depressiva há dois anos mas também é ruim que essa mesma pessoa te conheça o suficiente pra falar “putz, ela? melhor manter uma distância segura”.
pronto, acordei.
✸ caso você não tenha visto:
a vida é assim; coisas incríveis vão acontecer quando você estiver vivendo um dos piores momentos da sua vida e você não vai conseguir parar pra comemorar. eu abri despretensiosamente uma loja de blusinhas e ela me pagou, em um dia, o valor da conta alta do veterinário de quando tive que sacrificar minha gata de 18 anos.
a próxima edição vem em menos de 6 meses, pode anotar aí. obrigada pela compreensão e feliz 2024.